Objetivo deste subsídio
Este subsídio tem por objetivo auxiliar os professores da Escola Bíblica Dominical no ensino da Lição 2 — “O Corpo: A Maravilhosa Obra da Criação de Deus”.
Busca oferecer apoio bíblico, teológico e prático, em conformidade com as Escrituras e a Declaração de Fé das Assembleias de Deus, para que o professor ensine com clareza e convicção.
Mais do que ampliar o conteúdo da revista, este material visa fortalecer a compreensão de que o corpo humano é dom de Deus, criado para servi-Lo, adorá-Lo e expressar Sua glória.
Introdução
Nos primeiros séculos da Igreja, começaram a circular ideias religiosas e filosóficas que desvalorizavam o corpo humano.
Essas ideias provinham das religiões de mistério e do pensamento helenista, especialmente do platonismo, que via a matéria como inferior e o espírito como realidade superior.
Acreditava-se que o corpo era uma prisão da alma, e que o homem só encontraria libertação ao se livrar da carne.
Justo L. González explica que “a mentalidade grega via a matéria como algo imperfeito e transitório, em contraste com o mundo espiritual, que seria puro e eterno. Essa dicotomia influenciou muitos cristãos primitivos” (História do Pensamento Cristão, vol. 1, p. 49).
Dessa visão dualista surgiram dois extremos:
- O ascetismo, que pregava a necessidade de castigar o corpo para alcançar pureza espiritual.
Paulo combateu essa distorção ao afirmar que tais práticas “têm aparência de sabedoria, mas não têm valor algum” (Cl 2.23).
Como observa Craig S. Keener, “o ascetismo cristão primitivo, quando exagerado, confundia disciplina espiritual com desprezo pela criação de Deus” (Comentário Bíblico Cultural do Novo Testamento, p. 531). - A libertinagem, o extremo oposto, ensinava que “não importa o que se faz com o corpo, pois o que realmente conta é o espírito”.
Essa visão levava muitos à imoralidade, considerando o corpo irrelevante para a vida espiritual (Jd 4; 2Pe 2.19).
Como destaca Justo L. González, esse tipo de pensamento “abriu caminho para práticas libertinas entre certos grupos que, julgando possuir um conhecimento superior, acreditavam estar acima das exigências morais do evangelho.”
(História do Pensamento Cristão, vol. 1, p. 52)
Essas distorções, originadas de um pensamento religioso e filosófico que fragmentava o ser humano, foram duramente combatidas pelos apóstolos.
Eles ensinaram que o corpo é criação divina, tem valor espiritual e deve ser usado para glorificar a Deus.
Mais tarde, tais ideias se cristalizariam em um sistema mais estruturado e herético conhecido como o famigerado gnosticismo, que negava a bondade da criação e corrompia a doutrina da encarnação.
A fé cristã, porém, sempre afirmou que o corpo não é prisão da alma, mas templo do Espírito Santo (1Co 6.19–20).
A encarnação de Cristo é o maior testemunho dessa verdade.
O Verbo se fez carne (Jo 1.14) e ressuscitou em corpo glorioso (Lc 24.39), revelando que Deus valoriza o corpo como parte essencial do seu plano redentor.
Como declarou Tertuliano:
“A carne é o eixo da salvação.”
(Sobre a Ressurreição da Carne, 8)
Enquanto o pensamento helenista via o corpo como prisão, o cristianismo o reconhece como templo do Espírito e instrumento para glorificar a Deus.
1. A MARAVILHOSA OBRA DE DEUS
1.1 – Do pó da terra
A Bíblia declara que Deus formou o homem do pó da terra e soprou-lhe nas narinas o fôlego da vida (Gn 2.7).
Esse simples versículo contém uma das verdades mais profundas sobre a natureza humana: o ser humano é, ao mesmo tempo, matéria e espírito.
A matéria veio do pó, mas a vida veio do sopro divino.
Assim, o corpo humano é uma obra direta das mãos de Deus, e não produto do acaso ou de um processo cego de evolução.
O texto de Gênesis não fala de um processo natural, mas de um ato intencional e pessoal de Deus. O salmista confirma:
“Eu te louvarei, porque de um modo terrível e tão maravilhoso fui formado” (Sl 139.14).
Deus, como um oleiro habilidoso, modelou o corpo humano com perfeição e propósito.
Cada sistema, órgão e função revelam uma sabedoria que a ciência ainda tenta compreender.
John Stott destacou que “a fé cristã nos ensina a ver a natureza humana como criada por Deus, caída pelo pecado e redimida pela graça. O corpo não é um acidente biológico, mas parte da intenção criadora de Deus.” (Cristianismo Equilibrado, p. 52).
Ao criar o homem do pó, Deus nos lembrou de nossa dependência e humildade.
Do pó viemos e ao pó voltaremos (Gn 3.19), mas entre o pó e o sopro, está o mistério da vida concedida por Deus.
A mesma mão que moldou o barro levantou o ser humano para refletir Sua imagem.
Referências: Gn 1.26–27; 2.7; Jó 33.4; At 17.28.
Do pó, Deus fez corpo; com o sopro, deu vida. E quando o homem une corpo e espírito para adorá-Lo, cumpre o propósito da criação.
1.2 – Deus, o Autor da vida
Após formar o homem do pó da terra, Deus soprou em suas narinas o fôlego da vida (Gn 2.7).
Esse sopro não foi apenas o início de uma função biológica, mas a comunicação direta da vida que procede do próprio Deus.
Somente Ele tem poder para criar, sustentar e dar propósito à existência humana.
A Bíblia declara que Deus é o Autor da vida (At 3.15) e que cada pessoa é formada por Ele no ventre materno (Sl 139.13–16).
A vida humana, portanto, não é um acidente genético, mas um ato de criação contínua, no qual Deus imprime Sua imagem em cada ser.
O profeta Jeremias ouviu da parte de Deus:
“Antes que te formasse no ventre, eu te conheci” (Jr 1.5).
Isso revela que a vida é sagrada desde a concepção, não apenas porque começa biologicamente, mas porque começa na mente de Deus.
Ele não apenas cria a vida, mas a planeja e a acompanha.
O apóstolo Paulo afirmou:
“Nele vivemos, e nos movemos, e existimos” (At 17.28).
John Piper destaca essa ideia ao afirmar:
“Cada respiração, cada batimento cardíaco, é sustentado pela palavra do poder de Cristo. A vida é dádiva contínua; não existe um só segundo autônomo fora da dependência de Deus.”
(Em Busca de Deus, p. 69).
Essa compreensão destrói a visão moderna que trata a vida como mero produto da biologia.
Para o cristão, a vida é sagrada, intencional e relacional, vem de Deus, pertence a Deus e deve retornar a Ele em louvor.
Negar isso é transformar o ser humano em uma máquina sem alma.
Assim, crer que Deus é o Autor da vida nos leva a valorizar o corpo e a existência humana, respeitar o próximo e defender a vida em todas as suas fases, do ventre ao fim natural.
Referências: Gn 1.26; 2.7; Sl 139.13–16; Jr 1.5; At 3.15; 17.28.
A vida não é produto do acaso: é o sopro de Deus que continua a nos sustentar a cada dia.
1.3 – A formação integral do ser humano
O relato bíblico mostra que Deus formou o homem como um ser completo e integrado: corpo, alma e espírito (1Ts 5.23).
Esses três aspectos não são partes isoladas, mas dimensões interligadas que expressam a unidade da pessoa humana.
Em Gênesis 2.7, o texto diz que o homem “tornou-se alma vivente”, mostrando que a união do corpo (do pó) e do espírito (o sopro divino) produziu uma única realidade viva e indivisível.
A visão bíblica difere das filosofias gregas, que separavam radicalmente corpo e alma.
Para o pensamento hebraico, o ser humano é uma unidade psicofísica e espiritual — não um espírito preso num corpo, mas um corpo animado pelo sopro de Deus.
Por isso, a vida espiritual se manifesta também por meio do corpo, e não à parte dele.
O corpo ora, trabalha, serve e glorifica a Deus.
Como ensina o apóstolo Paulo:
“Glorificai, pois, a Deus no vosso corpo” (1Co 6.20).
O teólogo Russell P. Spittler, estudioso da espiritualidade pentecostal, resume bem essa visão integral:
“O ser humano não é fragmentado; ele adora, sente e serve como uma pessoa inteira diante de Deus. A espiritualidade bíblica é encarnada, não desencarnada.”
(Perspectivas Pentecostais sobre a Vida Cristã, p. 47).
De modo semelhante, Millard Erickson observa que “o homem é um ser unitário. A alma e o corpo são aspectos diferentes de uma mesma realidade, não substâncias separadas.”
(Teologia Cristã, vol. 2, p. 537).
Essas afirmações reforçam que a espiritualidade cristã é integral: não se vive a fé apenas no pensamento ou nas emoções, mas também com o corpo.
Por isso, cuidar da saúde, trabalhar com honestidade e viver com santidade são atos espirituais.
O corpo não é obstáculo para a vida com Deus; é instrumento de adoração e serviço.
Referências: Gn 2.7; 1Ts 5.23; Hb 4.12; 1Co 6.19–20; Sl 33.15.
O ser humano não é alma em busca de um corpo, mas um corpo animado pelo sopro de Deus para glorificá-Lo em tudo.
2. O CORPO E A GLÓRIA DE DEUS
2.1 – O divino tecelão
O salmista Davi contempla a complexidade da existência humana e declara, em adoração:
“Tu formaste o meu interior; tu me teceste no seio de minha mãe. Eu te louvarei, porque de um modo terrível e tão maravilhoso fui formado” (Sl 139.13–14).
Nessas palavras, Davi apresenta Deus como um artesão divino, que tece a vida com sabedoria e propósito.
A metáfora do tecelão transmite a ideia de delicadeza, cuidado e intenção: cada célula, órgão e traço do corpo humano são como fios entrelaçados pelas mãos do Criador.
O ser humano não é obra do acaso, mas resultado da arte e da providência de Deus.
O termo hebraico usado para “tecer” (sākak) indica uma ação de entrelaçar, como quem borda com paciência e precisão.
Isso revela que a formação do corpo é um ato pessoal de Deus, não um processo impessoal da natureza.
Até o que chamamos de “lei biológica” é, na verdade, expressão da vontade divina que ordena a criação.
O teólogo Wayne Grudem observa que “Deus continua atuando no mundo, não apenas no início da criação, mas em cada nascimento, pois é Ele quem dá vida e a sustenta”
(Teologia Sistemática, p. 280).
Essa declaração, nos lembram que o corpo humano é uma expressão visível da glória de Deus.
Reconhecer o Criador como o “Divino Tecelão” nos leva a adorar com reverência e gratidão.
Cada detalhe da existência da impressão digital à pulsação do coração — revela a assinatura de um Deus que se importa com cada vida individualmente.
Assim como um bordado tem seu valor pelo toque do artista, a vida humana tem valor porque foi tecida pelas mãos de Deus.
Por isso, nenhum ser humano é “acidental” ou “sem propósito”.
Cada um é resultado de uma vontade amorosa e cuidadosa do Criador.
Referências: Sl 139.13–16; Jó 10.11–12; Ec 11.5; Is 44.2.
Deus não apenas criou a vida; Ele a teceu com propósito. Cada fio da existência humana revela o cuidado do Divino Tecelão.
2.2 – Entendimento e louvor
O conhecimento correto sobre o corpo conduz naturalmente à adoração.
Quando Davi compreende que foi formado “de modo terrível e maravilhoso” (Sl 139.14), ele não apenas reflete sobre a complexidade da criação, mas transforma o entendimento em louvor.
A teologia o conduz à doxologia, o conhecimento sobre Deus se transforma em adoração a Deus.
O verdadeiro entendimento espiritual não se limita à razão, mas desperta o coração para o reconhecimento da glória divina.
A fé cristã não separa conhecimento e adoração, pois quanto mais o crente compreende o que Deus fez, mais motivos encontra para adorá-lo.
Por isso, o estudo da criação, inclusive do corpo humano, deve sempre resultar em gratidão e reverência.
O apóstolo Paulo expressa esse mesmo movimento teológico ao exclamar:
“Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos e quão inescrutáveis os seus caminhos!” (Rm 11.33).
John Stott comenta:
“A adoração é a reação natural e necessária do homem diante das obras de Deus. Quando a mente é iluminada pela verdade, o coração se inflama em louvor.”
(A Mensagem de Romanos, p. 338).
De modo semelhante, A. W. Tozer afirmou:
“A adoração nasce da admiração; e a admiração é filha do conhecimento. Só podemos adorar verdadeiramente o que conhecemos em profundidade.”
(O Conhecimento do Santo, p. 21).
Essas palavras expressam o que o salmista experimentou: entendimento gera adoração.
A ciência pode estudar o corpo, mas apenas a fé é capaz de reconhecer o Criador por trás da criação.
A mente racional pode se maravilhar com a biologia, mas somente o coração regenerado pode render-se em louvor.
Ao ensinar este ponto, destaque que a doutrina deve produzir devoção.
Não estudamos sobre o corpo humano apenas para entender sua estrutura, mas para glorificar o Deus que o formou.
A adoração consciente é fruto de um entendimento verdadeiro: quem compreende o Criador, louva com mais profundidade.
Referências: Sl 139.14; Rm 11.33–36; Sl 104.1–2; Ap 4.11.
“Conhecer a Deus leva a adorá-Lo; compreender a criação conduz a glorificar o Criador.”
2.3 – O perigo dos extremos
Ao longo da história da Igreja, sempre houve dois extremos perigosos em relação ao corpo humano: o desprezo e a idolatria.
Essas distorções são diferentes na forma, mas igualmente prejudiciais na essência, pois ambas afastam o homem do propósito de Deus para o corpo.
De um lado, está o ascetismo, que vê o corpo como inimigo da vida espiritual.
Essa visão leva ao legalismo, à autonegação exagerada e até à mortificação física, como se o corpo fosse fonte de todo o mal.
O apóstolo Paulo advertiu contra esse erro, lembrando que tais práticas “têm aparência de sabedoria, em devoção voluntária e humildade, mas não têm valor algum” (Cl 2.23).
Negar o corpo não é santidade, é ingratidão com o Criador, que o formou como parte de Seu plano perfeito.
Do outro lado, está o hedonismo, a idolatria do corpo.
Nesse extremo, o corpo é exaltado como centro dos prazeres e dos desejos, e o homem passa a viver em função da estética, do desempenho e da sensualidade.
O culto ao corpo, comum em nossa cultura, é uma nova forma de paganismo moderno.
Paulo também combateu esse erro:
“Todos os pecados que o homem comete são fora do corpo; mas o que peca sexualmente peca contra o seu próprio corpo” (1Co 6.18).
Entre esses dois polos, a fé cristã ensina o equilíbrio da mordomia do corpo: o corpo é para Deus, e Deus é para o corpo (1Co 6.13).
Isso significa que o cristão nem o despreza, nem o idolatra, mas cuida dele como templo do Espírito Santo (1Co 6.19).
Como afirma John Piper:
“O corpo é para o Senhor — não para o prazer autônomo, nem para o desprezo religioso, mas para a glória de Deus.”
(Desejando Deus, p. 178).
Russell P. Spittler também lembra:
“A espiritualidade cristã envolve o corpo. Ele participa da adoração, da oração, do serviço e da comunhão. A fé sem o corpo é apenas teoria.”
(Perspectivas Pentecostais sobre a Vida Cristã, p. 59).
Essas duas citações nos ajudam a compreender que o corpo é parte integral da vida espiritual.
A santificação não nega a carne, mas coloca o corpo sob o senhorio de Cristo.
O equilíbrio bíblico nos chama a viver com disciplina e gratidão, lembrando que o mesmo Deus que habita em nosso espírito também deseja ser glorificado em nosso corpo.
Vamos refletir:
— Tenho cuidado do meu corpo como mordomo de Deus?
— Tenho valorizado o corpo sem transformá-lo em ídolo?
— Minha vida corporal reflete a santidade que professo no espírito?
Essas perguntas ajudam a unir doutrina e prática, nos levando a uma fé encarnada e equilibrada.
Referências: 1Co 6.13–20; Cl 2.20–23; Rm 12.1; Fp 1.20.
Entre o ascetismo que despreza o corpo e o hedonismo que o idolatra, está o caminho da santidade: usar o corpo para glorificar a Deus.
3. O CORPO E A COLETIVIDADE
3.1 – A prática relacional
Deus criou o ser humano para a comunhão.
Desde o princípio, o Criador declarou:
“Não é bom que o homem esteja só” (Gn 2.18).
Isso mostra que a vida humana, inclusive a espiritual, não foi planejada para o isolamento, mas para a convivência e a cooperação.
O corpo físico, com sua capacidade de se expressar, ouvir, tocar e caminhar ao lado de outros, é instrumento da vida em comunidade.
O apóstolo Paulo usa essa mesma imagem para descrever a Igreja como o corpo de Cristo (1Co 12.12–27).
Cada membro é diferente, mas todos dependem uns dos outros.
Assim como o corpo humano precisa de cada parte para funcionar, a Igreja precisa de cada crente para cumprir sua missão.
“Ora, vós sois o corpo de Cristo, e seus membros em particular” (1Co 12.27).
Gordon D. Fee observa que “a metáfora do corpo mostra que a espiritualidade cristã não é apenas individual, mas comunitária. O Espírito distribui dons a cada membro para o bem comum.”
(A Primeira Epístola aos Coríntios, p. 523).
De modo semelhante, Stanley M. Horton afirma:
“O corpo de Cristo é o ambiente natural da vida espiritual. Não se pode ser cristão maduro fora da comunhão, porque é na convivência que o Espírito edifica e molda o caráter de Cristo em nós.”
(Teologia Sistemática: Uma Perspectiva Pentecostal, p. 614).
Essas palavras reforçam que a fé cristã é encarnada também na comunhão.
O corpo humano, criado para se mover, abraçar, trabalhar e servir, é símbolo e meio da comunhão cristã.
Não podemos viver a fé apenas no “interior” — é preciso expressá-la com o corpo, em gestos concretos de amor e serviço.
A vida em comunidade é parte essencial da fé.
Não há cristianismo isolado, assim como não há corpo com membros desconectados.
A comunhão não é um acessório da fé, mas um sinal da presença do Espírito Santo entre o povo de Deus.
Referências: Gn 2.18; 1Co 12.12–27; Ef 4.15–16; Rm 12.4–5.
O corpo foi criado para a comunhão; e a comunhão é o corpo em movimento revelando o amor de Deus.
3.2 – A prática congregacional
A comunhão cristã não se expressa apenas em relacionamentos pessoais, mas também na reunião do corpo de Cristo.
Desde os primeiros dias da Igreja, os discípulos “perseveravam na doutrina dos apóstolos, na comunhão, no partir do pão e nas orações” (At 2.42).
O culto público sempre foi um espaço onde o corpo humano participa ativamente: o povo canta, ora, se ajoelha, levanta as mãos e compartilha o pão.
Assim, o corpo físico se torna instrumento de adoração e testemunho coletivo.
O autor da carta aos Hebreus adverte:
“Não deixemos de nos congregar, como é costume de alguns, antes admoestemo-nos uns aos outros” (Hb 10.25).
Reunir-se não é mera formalidade religiosa — é necessidade espiritual.
O corpo se fortalece quando os membros se unem.
A adoração congregacional é o momento em que a fé individual se torna comunhão visível.
O teólogo Dietrich Bonhoeffer, em seu clássico sobre a vida comunitária cristã, escreve:
“O cristão precisa do irmão que lhe fala a Palavra de Deus. O Cristo no coração do irmão é mais forte do que o Cristo em meu próprio coração.”
(Vida em Comunhão, p. 17).
Essa frase resume a importância da congregação: na comunhão, Deus se revela por meio do outro.
De modo semelhante, Gordon D. Fee afirma:
“A adoração na igreja primitiva era uma celebração comunitária da presença do Espírito. O culto não era espetáculo, mas participação — o corpo inteiro respondendo à graça de Deus.”
(Paulo, o Espírito e o Povo de Deus. São Paulo: Editora Vida, 2009).
Essas observações nos lembram que a fé cristã não é apenas interior, mas corporificada na adoração conjunta.
Quando a igreja se reúne, o corpo físico e o corpo espiritual se unem em um só propósito: glorificar a Deus e edificar uns aos outros.
Por isso destacamos que o culto congregacional é um momento em que o corpo serve como canal da graça de Deus.
A presença física na igreja, cantar juntos, orar, ouvir a Palavra, fortalece a fé de toda a comunidade.
Faltar à comunhão é como separar um membro do corpo, enfraquecendo o todo.
Referências: At 2.42–47; Hb 10.24–25; Sl 95.1–6; Ef 5.18–21.
O corpo do crente encontra sentido no corpo de Cristo: adorar juntos é viver a fé de forma visível e encarnada.
3.3 – Tecnologia e culto
A tecnologia é uma dádiva da graça comum de Deus.
Ela pode e deve ser usada para o bem, inclusive no serviço cristão.
A Bíblia não condena o uso de instrumentos, ferramentas ou meios criativos para a adoração — o próprio templo de Jerusalém era repleto de recursos artísticos e musicais (1Cr 15.16; Sl 150).
Contudo, a fé cristã adverte contra o perigo de substituir a presença pela tela, o envolvimento pelo consumo e a comunhão pelo conforto.
Nos últimos anos, as transmissões online se tornaram importantes para manter o contato com os cultos, especialmente em tempos de dificuldade.
Mas é preciso lembrar: assistir ao culto não é o mesmo que participar do culto.
O corpo foi criado para estar presente — ajoelhar-se, levantar as mãos, cantar, chorar, servir, abraçar.
A vida comunitária não é apenas espiritual, é também encarnada.
O apóstolo Paulo afirma:
“Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional” (Rm 12.1).
O corpo participa do culto porque a adoração é total — envolve espírito, mente e corpo.
O perigo da era digital é reduzir a adoração a um ato mental ou emocional, quando, na verdade, ela deve envolver toda a pessoa.
O teólogo John Stott observa:
“O verdadeiro culto é racional não porque é frio, mas porque é consciente. É o oferecimento de todo o nosso ser — mente, emoção e corpo — em resposta ao amor de Deus.”
(A Mensagem de Romanos. São Paulo: ABU Editora, 1999).
De modo semelhante, Russell P. Spittler afirma:
“A espiritualidade pentecostal é comunitária e corpórea. O Espírito não apenas habita o crente, mas o move à comunhão e à expressão corporal da fé.”
(Perspectivas Pentecostais sobre a Vida Cristã. São Paulo: CPAD, 2010).
Essas palavras lembram que o culto não é espetáculo, mas participação viva.
A tecnologia é útil, mas nunca pode substituir o ajuntamento do corpo.
Ela deve ser instrumento de edificação, não de isolamento.
Quando usada com sabedoria, amplia o alcance da mensagem; quando usada sem discernimento, empobrece a experiência da presença.
Reflexão:
— Tenho usado a tecnologia para me aproximar de Deus e dos irmãos, ou ela tem me afastado da comunhão?
— O que muda na adoração quando estou presente no templo?
É importante lembrar que o culto presencial é insubstituível, porque nele o corpo participa da adoração, e a presença física fortalece os laços da fé.
Referências: Rm 12.1; Hb 10.24–25; Sl 150.1–6; 1Co 14.26.
A tecnologia pode transmitir a voz do culto, mas nunca o calor da comunhão. O corpo presente continua sendo o altar da adoração.
Conclusão
O estudo desta lição nos conduz à certeza de que o corpo humano é uma criação admirável de Deus, feito para expressar Sua glória no mundo.
A Declaração de Fé das Assembleias de Deus ensina que “o corpo é o invólucro da alma e o templo do Espírito Santo”
Essa definição expressa a verdade de que o corpo, embora formado do pó da terra, é o meio pelo qual o homem vive, sente, adora e serve ao Criador.
Entretanto, o corpo não é apenas um invólucro, ele é parte integrante da identidade humana e participante da obra redentora de Cristo.
Por meio dele, o ser humano manifesta a fé, pratica o amor e expressa a comunhão.
Desprezar o corpo é desonrar a criação; idolatrá-lo é corromper seu propósito.
A Bíblia nos chama ao equilíbrio: consagrar o corpo à glória de Deus.
O apóstolo Paulo resume essa verdade ao afirmar:
“Glorificai, pois, a Deus no vosso corpo e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus” (1Co 6.20).
O corpo, portanto, é o espaço onde a vida espiritual se torna visível.
É nele que servimos, adoramos e testemunhamos.
Criado por Deus, habitado pelo Espírito e redimido por Cristo, o corpo é instrumento santo da presença divina no mundo.




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