21 junho, sábado, 2025
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Trisal conquista direito inédito e registra filhos com três pais

Em Bragança Paulista, interior de São Paulo, uma família formada por três pessoas acaba de conquistar um marco significativo no reconhecimento das novas configurações familiares no Brasil.

Priscila Mira, administradora e influenciadora de 41 anos, Marcel Mira, administrador também com 41, e Regiane Gabarra, assistente social de 36, vivem um relacionamento poliafetivo há quase sete anos. Juntos, são pais de quatro filhos: Reginaldo, 21, Sara, 18, Isabela, 13, e Pierre, 3.

Apesar de sempre se considerarem igualmente responsáveis e amorosos, só recentemente conseguiram que o nome dos três constasse oficialmente nos documentos de dois dos seus filhos mais novos.

A trajetória rumo ao reconhecimento civil começou em 2024, com o registro de Pierre, o caçula, fruto de uma fertilização in vitro. O processo foi necessário porque Marcel havia passado por vasectomia antes de conhecer Regiane.

Superando os desafios médicos e emocionais, o nascimento de Pierre veio acompanhado de outra batalha: a inclusão dos três pais na certidão de nascimento. Inicialmente, o cartório negou o pedido, reconhecendo apenas os pais biológicos.

A família, no entanto, não recuou. Munidos de fotos, vídeos, documentos e relatórios que comprovavam a presença ativa de Priscila na vida do menino, levaram o caso à Justiça.

Dez meses depois, a vitória chegou. Pierre passou a ter, oficialmente, três responsáveis legais. A conquista, para eles, vai muito além de um papel: significa segurança, pertencimento e, principalmente, a validação de uma realidade afetiva que sempre existiu.

“Ouvi por muito tempo que mãe é quem está no documento. Hoje, as duas estão. Isso traz uma sensação de igualdade e reconhecimento que é indescritível”, contou Priscila.

Motivados pelo sucesso no processo de Pierre, eles partiram para o segundo desafio: atualizar os documentos de Isabela, filha biológica de Priscila e Marcel, que há muito já chamava Regiane de mãe. Por já ter completado 12 anos, a adolescente pôde expressar formalmente seu desejo de ter os três pais no registro.

O procedimento foi realizado diretamente no cartório, sem necessidade de recorrer à Justiça, e finalizado no início de 2025. “Ela ficou muito feliz. Trocou imediatamente o RG e disse que agora é uma Gabarra legítima”, celebra Priscila.

Apesar da felicidade com as conquistas, o trisal não planeja fazer o mesmo para os outros dois filhos. Reginaldo, irmão biológico de Regiane, foi criado por ela após a morte dos pais, mas, por questões legais, ela não pode ser reconhecida como mãe socioafetiva dele.

Já Sara, que embora reconheça Regiane como mãe, não sente necessidade de oficializar esse vínculo em documento. “Aqui nada é forçado. Tudo acontece no tempo e na vontade de cada um”, reforça Priscila.

A história desse trisal começou de forma inesperada. Priscila e Marcel viviam um casamento tradicional quando conheceram Regiane no ambiente de trabalho.

A amizade foi se fortalecendo até que, um ano e meio depois, Priscila percebeu que estava apaixonada por Regiane, sem que isso diminuísse seu amor por Marcel. Depois de uma conversa franca entre os três, decidiram viver essa nova configuração amorosa. “Desde aquela noite, estamos juntos e formamos uma família”, recorda.

Os filhos sempre lidaram bem com essa nova realidade. Pierre, que nasceu dentro desse contexto, cresce cercado de amor e sem qualquer questionamento sobre o modelo familiar.

As gerações mais novas, segundo o trisal, mostram-se muito mais abertas e livres de preconceitos. “Na escola, os amiguinhos dos nossos filhos sempre nos receberam com respeito e carinho. Nunca houve qualquer tipo de julgamento. As crianças vêm para ensinar”, afirma Priscila.

Essa vitória não apenas representa o amor e a união de uma família, mas também um avanço social na luta pelo reconhecimento de diferentes formas de constituir laços. “Ter filhos com o nome dos três valida a nossa família. Mostra que, embora nosso relacionamento seja atípico, somos, sim, uma família como qualquer outra, com amor, responsabilidades e deveres”, finaliza Priscila.

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