19 setembro, quinta-feira, 2024
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A importância do voto evangélico

Pr. Valmir Nascimento

Devido ao seu crescimento numérico nas últimas décadas, a comunidade evangélica tem sido considerada, a cada nova eleição, um ator social importante no processo político-eleitoral. Reiteradamente a mídia e especialistas da ciência política utilizam expressões como “o poder evangélico” em alusão à crescente influência dos evangélicos na dinâmica eleitoral e no processo de escolha dos representantes do povo.

Tal cenário nos leva a refletir acerca do engajamento sadio do cristão no ambiente político. Antes de tudo é necessário lembrar que a construção de um modelo de participação política biblicamente adequado e politicamente saudável deve partir de uma perspectiva sólida das Escrituras, a fim de formar um modelo de influência cristã na política, com ética e respeito, sem buscar interesses próprios ou dominação. Devidamente compreendida, longe das concepções que buscam os próprios interesses, a política diz respeito à administração pública visando ao bem comum, assim como o processo pelo qual o povo elege os seus representantes para o exercício do poder. Logo, ela é parte essencial da vida humana.

A conscientização dos crentes a respeito da importância da participação política, contudo, não significa a união entre o Estado e a Igreja. A propósito, o Senhor Jesus estabeleceu a clara separação entre esses dois entes ao ordenar: “Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus” (Lc 20.25). Tais palavras reforçam tanto a responsabilidade espiritual quanto social, enfatizando que Igreja e Estado possuem papeis distintos, mas que se complementar no que diz respeito à esfera social. A igreja deve influenciar o governo, mas com ele não se confunde. Quando o Estado tenta intervir na igreja, ou vice-versa, os prejuízos são inevitáveis, com implicações que afetam a consistência doutrinária da cristandade, como bem atesta a história do cristianismo.

As Escrituras também nos admoestam a obedecer às autoridades (Rm 13.1,2), respeitando as leis e o governo civil, pois toda autoridade provém de Deus e foram ordenadas por Ele (v.1), por isso o conselho paulino para intercedermos pelos governantes (1Tm 2.1-4). Contudo, tal obediência não pode ser cega e irrefletida (At 5.27-29), pois a sujeição à autoridade humana deve ser feita por amor ao Senhor (1Pe 2.13).

O maior instrumento para o exercício da responsabilidade política do cristão nos tempos atuais é o voto. Por meio dele, os cidadãos elegem as autoridades da nação, do vereador do município ao presidente do país.

Em primeiro lugar, o exercício do voto do cristão é importante porque ele põe em prática a responsabilidade social e política neste mundo, exercendo a sua dupla cidadania. Ao mesmo tempo em que as Escrituras afirmam que a nossa cidade está nos céus (Fp 3.20; Hb 13,14), asseguram também que somos peregrinos (1Pe 2.11). A dupla cidadania do cristão indica que os crentes não podem estar alienados da sociedade e das questões sociais, políticas e econômicas. Como cidadãos deste planeta e embasados em uma visão de mundo eminentemente bíblica, devemos respeitar as leis e participar das discussões do cenário político, influindo nos temas da sociedade e do governo.

Em segundo lugar, o voto é relevante pois é uma grande oportunidade dos crentes exercerem sua fé e defenderem seus valores na esfera pública, apoiando políticas que promovam justiça, retidão e paz na sociedade, à luz dos valores morais e espirituais extraídos das Escrituras. Isso implica o apoio a propostas que defendam a vida, a família, a dignidade da pessoa humana e a defesa das liberdades, inclusive religiosa.

Em terceiro lugar, o voto evangélico é, em contrapartida, uma maneira de resistir as ideologias perniciosas que ofendem a integridade da vida humana. Ideologias que promovem relativismo moral, secularismo agressivo, ou que tentam silenciar a voz da igreja e dos valores cristãos na esfera pública, ameaçando diretamente a liberdade religiosa.

Para tal, os discípulos de Cristo devem votar de forma livre e consciente, o que implica em exercer o direito ao voto de modo refletido e com senso de responsabilidade, na busca pelo atendimento do interesse público (Fp. 2.4), à luz dos valores morais e espirituais extraídos das Escrituras.

É dever do cristão não negociar o seu voto. Vender o voto é o mesmo que barganhar a consciência. Além de ser sinal de egoísmo (Gl 5.20), visando o benefício pessoal, é também um ilícito eleitoral. Convém lembrar que se considera “venda de voto” não somente o recebimento de dinheiro em espécie, mas toda e qualquer vantagem pessoal, inclusive bens e ofertas de emprego.

A influência da religião evangélica no processo eleitoral deve ser uma participação democrática, construtiva, propositiva e até mesmo questionadora, em defesa da justiça e de seus valores e princípios bíblicos, conscientizando os crentes para o exercício do direito ao voto de maneira livre e consciente, para a glória de Deus!

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